Estes foram, sem dúvida, dos desenhos animados que mais marcaram a minha pacata infância. Tom Sawyer e Huck Finn formavam um cativante par de rebeldes que bem contrapunham a minha faceta calma e bem comportada. Adorava pensar que podia ter excitantes aventuras nas margens do Mississipi e que a belíssima Peggy lá estaria no fim para me beijar e para fazer corar as minhas bochechas, nesse fenómeno incontrolável e que ainda hoje gera momentos hilariantes ou, em alguns casos, embaraçosos.
“Sonharás que és um pirata
Sobre uma fragata
Sempre à frente de um bom grupo
De raparigas e rapazes
Tu andas sempre descalço
Tom Sawyer
Junto ao rio a passear
Tom Sawyer
Mil amigos deixarás
Aqui e além
Descobrir o mundo viver aventuras”
A música do Tom Sawyer é, ainda hoje, interruptor de uma mola que logo leva nostálgicos irremediáveis com idade para ter juízo a saltar por qualquer pista de dança improvisada, arriscando alguns – eu confesso que adoro – correr “à Tom Sawyer”, ou seja , todo inclinado para trás e com os joelhos e os pés a elevarem-se, numa complicada coreografia, até ao ponto mais alto possível. Não posso dizer que seja de execução fácil, será talvez o equivalente a um duplo emprachado nos exercícios de solo – muito bonito de ver mas complicado de executar.
29 de janeiro de 2008
NTTV – Tom Sawyer
28 de janeiro de 2008
Coisas do Estádio II
Coisas do Estádio I
25 de janeiro de 2008
23 de janeiro de 2008
Suicídio
22 de janeiro de 2008
Pânico
A pérola de George
21 de janeiro de 2008
Do vinho
Sobre os aromas podemos falar em “caça mortificada”, “caramelos Logroño”, “campos primaveris do Alentejo”, “morangos de Março”, “olaria”, “mesa de jogo sem cartas”, “palha seca”, “rédeas de cavalo”, “cinza de charuto”, “cardamomo, “Maltesers”, “talo de couve”, “iconografia do século XVII”, “couro limpo”, “selos de correio”, “granito morno”, “sacristia”, “túlipas roxas”, “armário de livros”, “fruta amanteigada”, “sargaço”, “móveis antigos”, “couro seco”, “petróleo”, “polainas húmidas”, “violetas”, “pólvora seca de 1940”, “chumbo”, “penas de faisão”, “cheesecake com compota de framboesas”, “geada de Outono”, “percebes”.
Acerca da cor ela pode ser de “framboesas vermelhas”, “sangue de cobra com mirtilo”, “rubi suave”, “sangue de galinha fresco”, “caneta de feltro Molin rosa em álcool”.
Quanto ao sabor do vinho, ele pode ser de “groselhas verdes”, “taninos secos”, “capilé”, “uva”, “planaltos floridos de Maio”, “frutal”, “manga”, “cerefólio”, “canela e tomate”, ou “áspero com corpo de ginasta rítmica russa”, “denso e impetuoso com marcas de revolução”, “com uma dimensão de veludo”, “com um coração de aço”, “que suaviza e humaniza o núcleo central de fruta madura”, “circunspecto”, ou, o meu preferido, “de enorme profundidade intelectual”.
A ironia de tudo isto é que se está a tornar o vinho como algo tão intelectualizado que qualquer dia é mais importante cuspir depois de bochechar do que realmente beber o vinho. Eu vou preferindo beber o próprio do vinho, sem deitar fora, de preferência de boa qualidade, sem faltas de quantidade e que nos consiga alegrar a alma. E de preferência que não cheire a “suor de cavalo”.
18 de janeiro de 2008
Do amor e do feitio
Nada como uma boa história de amor para nos deixar de bem com a vida. Isto a propósito de “The Quiet Man” – “O Homem Tranquilo”, de John Ford, que finalmente consegui ver esta semana, após anos de descuido cinéfilo. Neste excerto podemos ver duas das cenas mais marcantes do filme: um dos mais bonitos beijos da história do cinema, com John Wayne e Maureen O’Hara a esvoaçarem sem conseguirem resistir ao amor, e um pouco da cena final de pancadaria, das mais divertidas que me lembro de ver.
A visão de Maureen O’Hara a pastorear ovelhas num verde campo irlandês, com uma esvoaçante saia encarnada que explode num feérico Technicolor é de levar um homem a suicidar-se por amor a ela. A beleza desta mulher é tão indefinível como inultrapassável, conseguindo ao mesmo tempo ser inacessível e atractiva, terra-a-terra e aristocrática, doce e de péssimo feitio. Aliás, é mesmo o mau feitio desta personagem que a torna ainda mais desejável, mulher de têmpera e orgulho, de trato difícil. O bom feitio é algo agradável, importante para uma socialização tranquila e civilizada, mas nada como uma mulher impetuosa e complexa, de reacções inesperadas, para nos enlouquecer de facto e nos dar aquela, desculpem a expressão, pica necessária a qualquer relação. Gosto muito de gente branda e fácil, acho mesmo que resulta muito bem para a amizade, mas a paixão exige alguma tensão e para isto um certo mau feitio é necessário. Não é preciso ser um FDM (ver glossário), mas um bom excesso de personalidade já serve. Qualquer coisa que não nos deixe dormir sobre o amor. Que peça mais, que nos desperte mesmo que seja para gritar. Não pretendo defender o mau feitio como forma de estar, apesar da graça que pode ter, mas lá que uma mulher de mau feitio é outra coisa, lá isso é.
17 de janeiro de 2008
Mestre Cohen
16 de janeiro de 2008
NTTV
A abertura é marcada pelo genérico de Marco, a série de desenhos animados responsável por mais ataques de choro em crianças do meu tempo. Após os açoites, na altura permitidos, e as provocações dos irmãos, pouca coisa teria um efeito tão imediato de provocar tristeza profunda como esta história do órfão italiano. Talvez na altura já o meu temperamento fosse marcado pela melancolia, o que é certo é que eu adorava esta série e, talvez estranhamente, não chorava. Um psicanalista poderia ter aqui terreno fértil para trabalhar, não fosse o caso de eu nunca ter posto os pés num desses consultórios. Não por ter medo ou não acreditar na sua eficácia, apenas por saber que não tenho conta bancária que suporte dependências tão longas e caras.
15 de janeiro de 2008
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14 de janeiro de 2008
Modernices boas
De fumantes II
11 de janeiro de 2008
De fumantes
10 de janeiro de 2008
9 de janeiro de 2008
8 de janeiro de 2008
Momentos de Terror
lost in translation
Adora crianças, mas em doses moderadas e, de preferência, com grau de proximidade que me permita dar-lhes alguma educação, leia-se raspanete e palmada no rabo. O excesso de gnomos com um ar muito giro e mente perversa é um barril de pólvora sempre pronto a explodir. O grave é que os pais, ao verem tanta gente em volta, optam por entrar em alienação e deixam as crianças entregues ás outras crianças ou a um outro pai mais responsável. O resultado pode ser mais caótico do que Bagdad após a intervenção norte-americana e é justo temer por todos os objectos quebráveis em nosso redor, para além de ser quase inevitável o aumento da poluição sonora, tolerado pelos mesmos que dizem já não ir a discotecas porque o som está sempre muito alto e não conseguem conversar. Claro que não reparam que estão a caminho de se tornarem surdos, pelo menos se continuarem a achar que os guinchos das crianças são, mais do que normais, essenciais ao adequado desenvolvimento das mesmas.